terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

#219 O fim da realidade


Na imagem que deu que falar, Mark Zuckerberg - criador do facebook, passeia por uma conferência onde toda a gente está ligada virtualmente a outra realidade, entrando assim despreocupadamente sem dar nas vistas. Interessante a visão de um dos arautos do mundo virtual, como "o único acordado, numa plateia de adormecidos".

Actualmente vivemos mais tempo no Real ou no Virtual?

Quanto tempo perdemos em comunicações, pela internet fora, de olhos colocados no telemóvel, na televisão, vivendo notícias, alimentando-nos de cenários?

Quantas vezes olhamos afinal para o sol, para o céu e para as estrelas? Quantas vezes passeamos apenas no jardim, oferecemos carinho a um animal que connosco se cruza, sorrimos apenas ao estranho que nos olha? Quantas vezes respiramos apenas, sorrimos e celebramos a vida?

Todos quantos permanecerem acordados, ou despertarem da intoxicação desinformativa, terão um dia o prémio pretendido: a constatação da realidade e qui ça aos poucos, mesmo da hiperrealidade. Esta última: de muito mais difícil acesso, apenas disponível em doses curtas para não matar.

A dificuldade quotidiana que nos espera, é a de fugirmos às armadilhas que nos são colocadas minuto a minuto. Instante a instante.

Um jornal. A manchete de uma revista. Um anúncio publicitário. Uma falsa notícia. Uma opinião alicerçada em coros de opiniões compradas. Títulos falsos, de universidades falsas, que legitimam sabedoria também ela inquinada. Ou medos que nos injectam. Rumores. Intrigas. Malhas de interesses. Ou ainda fotografias ou filmes, que isso dos olhos... também eles são afinal facilmente enganados. Talvez a lei. Talvez a noção do certo e do errado. Do bem e do mal. Talvez a noção de país e de fronteiras. Talvez a cor da pele. Talvez a escolha da opção sexual de cada um. Talvez a religião. Talvez o peso do dinheiro na nossa felicidade. Talvez a fatalidade de pagarmos por bens que são gratuitos. Talvez o partido. Talvez a direita por oposição à esquerda. E a esquerda por oposição à direita. Talvez as sondagens ou as estatísticas ou as tendências ou a moda ou o rumo ou o "tem que ser" ou "é inevitável". Talvez os velhos contra os novos. Os ricos contra os pobres ou os do sul contra os do norte. Talvez o futebol. Talvez a paixão volátil por oposição ao amor. Talvez a confortável mentira, por oposição à dor que ensina. 

Compreendo todos quantos preferem viver no virtual. Até eu me canso deste "real", tão povoado de ilusões.

Ainda assim, aqui fica para meditar mais um texto reflexivo, ainda que também ele pecando por habitar este mundo virtual, mas com a desculpável bondade de pretender despertar consciências. 

Está triste ou angustiado? Deprimido, entediado ou fatigado? Escolha a sua ilusão e divirta-se!


(eu acho que vou ver o mar um pouco, antes de continuar o meu dia)


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

#218 A vida e a morte


Tudo passa num ápice. TUDO!


No nascimento à infância. Da infância até à adolescência. Da adolescência até à idade adulta. Da idade adulta até à velhice. Da velhice até à morte... a seguir: renascimento?

Nem sempre cumprimos todas essas etapas, mas encontramo-las em tudo. Relacionamentos, vida profissional, as nossas ligações a lugares...

Tudo sempre tão efémero! Tudo sempre em permanente mutação. Tudo sempre tão impermanente.

Hoje, o mote para meditar um pouco mais em tudo isto, (tarefa que no entanto me invade a todo o instante), foi a despedida de alguém muito próximo, do seu irmão de sangue. 

No fundo, também era meu irmão, porque o primeiro é como se o fosse. Logo: É.

A dor da partida é para muitos, difícil de debelar... A ausência permanente que se tenta impôr, as memórias, o futuro que já não acontecerá.

Hoje, no entanto, eu mesmo me sinto cada vez mais preparado e pessoalmente: "tenho sempre as minhas malas feitas".

Costumo dizer que nao há forma de ficarmos "preparados" se não mudarmos a nossa matriz de pensamento, despertando e claro... perdendo muitas pessoas, antes. Parece uma visão masoquista, mas é a que acredito. A experiência ajuda em tudo. Até nisto.

É que às tantas, percebemos que não lhe podemos fugir e a solução é encarar a coisa de frente.

Nascer e morrer. São as únicas duas certezas!

Por isso, no meu caso pessoal, convivo já bem com a morte. Desde tenra idade que me cercava e não levou a melhor. Isso fez-me ter muito gozo na vida. Depois... comecei a "perder" pessoas. Perder entre aspas, porque estão todo vivos.

Aliás, todos os "meus mortos vivem em mim". Sinto-me pois em paz com isso, com a sua partida do mundo físico. Mesmo escandalosamente preparado para que todos, até ao último: partam. Até que também eu parta, um dia.

Porque haverá sempre um novo sol a despontar em qualquer lado... Haverá sempre algo novo para fazer. Um novo corpo, ou apenas luz, ou a derradeira fusão... no mínimo o regresso ao cosmos, a parte que se junta ao todo. Um novo início!  

E até lá?


V  I  V  E  R  !!!


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

#217 Repetição


Há sempre um determinado ponto na vida em que tudo é parcialmente (senão totalmente mesmo), fruto de uma desgastante e qui ça desconcertante: repetição.

Olhamos para trás e desfrutamos, caso estejamos atentos, da(s) a(s) nossa(s) própria(s) sombra(s). Acompanham-nos todos os EU's que outrora fomos, perseguindo-nos, na tentativa de participarem, condicionarem, até de talvez impedirem a manifestação dos novos caminhos.

Umas vezes são bem sucedidos, (péssimo para nós), outras vezes não.

Quem somos "nós" afinal, se estamos em constante mutação? Qual o ponto em que a tal "essência" corre o risco conservador de nos impedir a evolução?

Qual o ponto chave em que o poderoso, mas sempre derrotável medo, se esconde por detrás do desejo de mudança e se mascara de valores e princípios?

Qual o ponto em que o ego assume os comandos da máquina e se auto-alimenta das imagens projectadas de nós mesmos nos outros e necessariamente em nós?

Em que medida o karma, a existir e para quem o subscreve, compromete afinal o livre arbítrio, pervertendo as nossas escolhas, momento a momento?

Paro, observo e deparo-me com o imenso e quase adorável dejá vu, ao qual quase me apego, enquanto doce e carinhosamente o analiso e saboreio pedaço a pedaço.

Porque essa falha no vórtice espaço tempo, em que me permito descansar um pouco, merece sem dúvida a sua calma e serena degustação!

Até porque será a última vez, nesta forma. E isso, é mais do que motivo de celebração, pesem embora todas as inúmeras dores da caminhada...

Invade-me nesses momentos, o estado de gratidão pelo (re)conhecimento. Pela pausa! 

Pelo gigantesco banquete que me é uma vez mais oferecido e que contemplo com todos os mais desconhecidos sentidos, mas igualmente com os olhos da alma atentos e lágrimas contidas. Umas vezes, sim. 

Outras não.

Mas é sempre de saborear...







#216 Carnis Levale



As memórias de um tempo já ido, batem-nos à porta por vezes, qual
purgatório a que estamos condenados a dedicar todas nossas preces, 
no Altar do Ilusório. E não lhe podemos recusar entrada.

A subtileza da circunferência surge assim uma vez mais demonstrada: percorrida em toda a sua área, tudo converge novamente até ao mesmo ponto inicial, que revisito qual movimento perpétuo.

Na caruma do tempo, piso agora gotas de água entrelaçadas. Como as... mãos. 

Chove cá dentro (mas como pode ser possível se faz tanto sol lá fora?). Uma estrela caiu, estatelou-se no chão. Levantou-se depois, mas já perecida, sussurrou-me pétalas em tons de azul e partiu. Para não mais voltar.

Gostava de ter ido com ela e visitar todos os planetas. Dentro e fora do nosso sistema solar. Quem sabe ficar um pouco numa nuvem e finalmente respirar.

Carnis Levale Tempus... é tempo de alguns mascararem a contrição, com sorrisos e purpurinas variadas.

As pessoas sem gente dentro festejam, felizes e contentes, em torno do Altar que o teu dEUS erigiu e em torno desse novo/velho cordeiro de ouro disfarçam, principalmente o que ainda não conhecem.

Não querem ou não conseguem. Não querem, portanto.

Despertar nem sempre é bom. Mas despertar foi preciso.

P r e c i s o de


f i c a r

s a i r



D es pe

r

tar

é


p r e c i s o
-
continuar.


a chuva cai a potes, mas já não a vês.

domingo, 7 de fevereiro de 2016

#215 OBSERVAR


O B S E R V A R.

"APENAS" OBSERVAR-NOS. A NÓS E AOS OUTROS.


É talvez o único conselho que nos dias de hoje me sinto preparado para dar, com determinação, depois de décadas de experimentação (só contando as desta vida). E quem sabe, estar ainda preparado para fornecer ao meu/minha interlocutor(a), algumas pistas e caminhos para o efeito. 

Como o fazer; como desenvolver essa capacidade e como extrair dela o maior proveito.

É que apesar da vasta experiência nessa matéria, antes ainda da matriz sociológica adquirida fruto da academia, todos os dias eu próprio me surpreendo. E isso é uma preciosa ajuda para o observador mais novato.

Nem sempre as conclusões são certas. E mesmo quando o são, nem sempre são animadoras. Mas são sempre veículos, instrumentos, guias, que nos auxiliam nos vários e constantes processos de decisão quotidianos.

"Conhecermo-nos" - julgo que é a derradeira missão que devemos agarrar. Depois dessa, claro que outras... mas nunca não tão prioritárias.

Todavia não basta só a observação. Muitas das vezes é igualmente necessário AGIR.

A bem da humanidade, caminhemos. Mas observemos. Observemos... 

Observemos.




sábado, 6 de fevereiro de 2016

#214 A Teoria dos Relógios Dessincronizados



Há uns bons anos atrás, tinha a velha mania de escrever teorias filosóficas e de dissertar sobre o tudo e o nada. 

Bem sei que não tive uma infância e adolescência igual à maioria. Mas prezo precisamente isso.

Fazia-o com um velho amigo, irmão mesmo, que discorria sobre as suas perspectivas de vida e eu sobre as minhas, em franca partilha e debate intelectual entre iguais. Ainda hoje.

Recordo ainda bem uma teoria dele, bastante apreciada por mim e que mais não era que a "Teoria do Equilíbrio", fundamentada em equações e bem pensada.

Uma das que mais gosto me deu escrever, foi a "Teoria dos Relógios Dessincronizados".

Dizia eu, à época (resumidamente), que todos seríamos portadores de um relógio vital. Não pense o leitor que era uma mera apreciação do conceito do nosso tempo de vida e da sua relatividade.

O objecto de estudo era o amor e as relações no quadro de amizade e outros.

Ora esse "relógio", estava programado para eventualmente estar "certo" num determinado tempo.

Ao longo da vida, cruzar-nos-íamos com outros "relógios". Umas vezes estavam certos com o nosso. Outras: não.

Mas mesmo os "certos", iam-se desprogramando com o tempo, lutando contra os incríveis desafios que os impediam de permanecerem certos, sincronizados um com o outro.

Por outro lado, por vezes dois ou mais relógios cruzavam-se. Mas... por horas, minutos ou meros segundos, não estavam sincronizados um com o outro. E por isso: não se reconheciam... (quem sabe noutra vida?)

Curioso fado o nosso, portadores de relógios vitais, que ora somos.

Por um motivo ou por outro, ao longo da vida, regresso vezes sem conta a essa Teoria, que se encadeia precisamente numa outra: a "Teoria dos Iguais, dos Diferentes e dos Diferentes dos Diferentes".

Não vou aqui discorrer sobre ela, mas é sem dúvida um grato orgulho pertencer a estes últimos, por mais dores que isso acarrete. Mas a vida... essa coloca-nos à prova todos os dias.

E recusarmos o caminho fácil de pertencer à classe dos "Mais Inteligentes dos Burros" ou aceitarmos se preciso for e durante um período: ser os "Mais Burros dos Inteligentes"... não é de facto para todos.

Um bom Carnaval, estejam por onde estiverem, aceitem e sejam felizes com as vossas escolhas. Quaisquer que elas sejam, mas delas não se lamentem.

Eu, da minha parte, estou cada vez mais imune à passagem do tempo, cada vez mais ciente do meu papel por "aqui" e mais desprendido.

Desapegarmos-nos do que nos faz "bem" e combatermos a aversão do que nos faz "mal", é o mais importante desafio. Nem cultivar a ansiedade pelo futuro, nem o apego às memórias agradáveis do passado.

Tudo é sempre afinal tão relativo! Cada vez estou mais certo disso.

A dor de hoje, uma vez compreendida e relativizada, contextualizada, compreendida e ultrapassada: é a maturidade de amanhã e a segurança nas decisões.

É só estar atento, ler os sinais, observar.

Observar...

Observar.



Meditemos.