segunda-feira, 17 de novembro de 2014

#168 E voltei. Vipassana aprendida.


De volta dos meus 10 dias de silêncio total, sem contacto com o exterior, sem contacto com os outros participantes, sem poder tocar sequer em ninguém, sem poder olhar ninguém, sem poder falar.

10 dias sem livros, sem telemóvel, sem computador, sem televisão, sem poder tirar apontamentos, sem poder fazer exercício físico para além de caminhar.

10 dias a levantar às 04h para meditar, num programa rígido, que resultou cerca de 10 a 12h por dia... aliás, direi mesmo que foram bem mais. Porque se entra num estado, em que estamos em meditação quando andamos, quando comemos, mesmo nos períodos de descanso.

Foi isso a que me propus e foi exactamente isso que fiz.

A técnica consiste em deslocar a atenção para a respiração natural, (não forçada) e progressivamente deslocá-la para diferentes partes do corpo. Primeiro concentrando no topo da cabeça e depois descer para a testa, os olhos, o nariz, a boca, depois os ombros, topo do braço, cotovelo, braço inferior, dedos, etc, etc

À medida que o processo evolui, tornamo-nos cada vez mais conscientes do nosso próprio corpo e de cada parte individual. Entramos no campo das sensações cada vez mais subtis, aguçando a mente e tornando-a mais penetrante.

Das sensações mais "grosseiras", a que estamos habituados (dor, calor ou frio, ou a mera noção dessa parte do corpo) se avança progressivamente para outras sensações como: o ar ligeiro que toca na pele, vibrações, pulsações, expansão e contracção, "energia" que flui, etc, etc, até chegar à desmaterialização total (onde só o tempo e a prática continuada correctamente, podem contar).

Somos treinados para observar, observar, observar, nesta dicotomia entre ser-se observador do que se passa dentro de nós mesmos, tentando não reagir a nenhum impulso. Quando digo a nenhum impulso, digo nenhum. Ou seja: nem à dor... dor essa que surge nomeadamente nos períodos em que estamos em posição de lótus, ou perto disso...

O treino em mudar os padrões habituais da mente inicia-se, com a quebra da barreira consciente/inconsciente, desenvolvendo a visão interior da nossa própria natureza.

As sensações que desenvolvemos quando temos raiva, ódio, angústia, mas também paixão, etc, são observadas e demonstram-nos que tudo é impermanente.

Com vipassana tomamos nota dessa impermanência (anicca) e somos convidados a observar tudo com equanimidade, sem fazer juízos de valor, sem reagir às sensações agradáveis com apego, ou às sensações desagradáveis com repulsa, contrariando os habituais padrões da mente.

De facto é um curso que sendo bom para todos(as), não é de facto para todos(as).

Só para todos(as) quantos se permitam submeter a uma provação deste estilo, mas em troca ganharem acesso a uma forma de sabedoria que lhes ficará para a vida.

Reitero que o retiro é totalmente gratuito. TOTALMENTE. (interessados? Perguntem-me como, através de email)

É fornecida alimentação e acomodamento (adequados à prática de meditação), os serviços são todos efectuados por antigos alunos, sendo que quem frequenta o curso pela primeira vez, é depois convidado a dar o donativo que entender e quando entender (não é antes de ir, nem sequer no dia em que sai, mas sim quando quiser) e incitado a que se inscreva para depois servir os outros num próximo retiro, como os seus colegas fizeram por si.

A aposta é a de que uma vez experimentando em si mesmo, o próprio aluno na sua consciência terá todo o gosto em ajudar, uma vez que testemunha na primeira pessoa os benefícios da técnica e a verdadeira realidade. E eu confirmo que assim o é, de facto.

Filosofias à parte (que podem e devem ser discutidas e eventualmente discordadas), a verdade é que a técnica é maravilhosa, dá-nos a acesso a campos de nós mesmos que por ventura desconhecíamos e aguardo para sentir as melhorias introduzidas, com a prática continuada a que doravante me entregarei, substituindo a prática meditativa que até hoje desenvolvi e que era a de meditação transcendental (que continuo a recomendar a quem não se queira submeter a uma provação deste género).

Que todos os seres possam ser felizes e experimentar a verdadeira felicidade (palavras ouvidas repetidas vezes nas palestras a que tive acesso e que subscrevo integralmente)



FOTO: pois... é mais ao menos isto.


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