sábado, 6 de fevereiro de 2016

#214 A Teoria dos Relógios Dessincronizados



Há uns bons anos atrás, tinha a velha mania de escrever teorias filosóficas e de dissertar sobre o tudo e o nada. 

Bem sei que não tive uma infância e adolescência igual à maioria. Mas prezo precisamente isso.

Fazia-o com um velho amigo, irmão mesmo, que discorria sobre as suas perspectivas de vida e eu sobre as minhas, em franca partilha e debate intelectual entre iguais. Ainda hoje.

Recordo ainda bem uma teoria dele, bastante apreciada por mim e que mais não era que a "Teoria do Equilíbrio", fundamentada em equações e bem pensada.

Uma das que mais gosto me deu escrever, foi a "Teoria dos Relógios Dessincronizados".

Dizia eu, à época (resumidamente), que todos seríamos portadores de um relógio vital. Não pense o leitor que era uma mera apreciação do conceito do nosso tempo de vida e da sua relatividade.

O objecto de estudo era o amor e as relações no quadro de amizade e outros.

Ora esse "relógio", estava programado para eventualmente estar "certo" num determinado tempo.

Ao longo da vida, cruzar-nos-íamos com outros "relógios". Umas vezes estavam certos com o nosso. Outras: não.

Mas mesmo os "certos", iam-se desprogramando com o tempo, lutando contra os incríveis desafios que os impediam de permanecerem certos, sincronizados um com o outro.

Por outro lado, por vezes dois ou mais relógios cruzavam-se. Mas... por horas, minutos ou meros segundos, não estavam sincronizados um com o outro. E por isso: não se reconheciam... (quem sabe noutra vida?)

Curioso fado o nosso, portadores de relógios vitais, que ora somos.

Por um motivo ou por outro, ao longo da vida, regresso vezes sem conta a essa Teoria, que se encadeia precisamente numa outra: a "Teoria dos Iguais, dos Diferentes e dos Diferentes dos Diferentes".

Não vou aqui discorrer sobre ela, mas é sem dúvida um grato orgulho pertencer a estes últimos, por mais dores que isso acarrete. Mas a vida... essa coloca-nos à prova todos os dias.

E recusarmos o caminho fácil de pertencer à classe dos "Mais Inteligentes dos Burros" ou aceitarmos se preciso for e durante um período: ser os "Mais Burros dos Inteligentes"... não é de facto para todos.

Um bom Carnaval, estejam por onde estiverem, aceitem e sejam felizes com as vossas escolhas. Quaisquer que elas sejam, mas delas não se lamentem.

Eu, da minha parte, estou cada vez mais imune à passagem do tempo, cada vez mais ciente do meu papel por "aqui" e mais desprendido.

Desapegarmos-nos do que nos faz "bem" e combatermos a aversão do que nos faz "mal", é o mais importante desafio. Nem cultivar a ansiedade pelo futuro, nem o apego às memórias agradáveis do passado.

Tudo é sempre afinal tão relativo! Cada vez estou mais certo disso.

A dor de hoje, uma vez compreendida e relativizada, contextualizada, compreendida e ultrapassada: é a maturidade de amanhã e a segurança nas decisões.

É só estar atento, ler os sinais, observar.

Observar...

Observar.



Meditemos. 




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