domingo, 23 de março de 2014

#31 Amar


Não é fácil encontrar uma definição de Amor. Especialmente nos tempos que correm, em que o egoísmo exacerbado e a fome de sermos felizes, atropela tudo e todos.

Muitas das vezes, confundimos a realização dos nossos caprichos com a felicidade plena. E não é verdade.

Não são meros momentos de êxtase, que nos marcam fundo e para sempre. Também eu ao longo da minha caminhada, os tenho não raras vezes procurado e estimulado... mas sei-os efémeros. 

A beleza das mais simples coisas e de ver espelhado no(a) outro(a) um sorriso sincero e verdadeiro, continua para mim a valer mais que tudo.

Amar pois, é desapego. É compaixão, também. Amar não é deter, ou ter posse de algo ou de alguém. Mas sim entender a liberdade como princípio básico para a felicidade.

É certo que quanto mais livres somos, maior é a responsabilidade em estarmos à altura dessa liberdade. Mas liberdade é isso mesmo: L I B E R D A D E.

Dessa redundância não podemos sair, no meio de conceitos arcaicos com os quais somos educados e que persistem muitas das vezes num modelo de sociedade obsoleto que falhou em quase tudo.

Falhou, por premiar a inútil acumulação de dinheiro, ao invés da acumulação e distribuição de amor. Falhou, porque definiu que: TER seria mais valioso do que SER... errou claramente.

Mas se é para SER... que SEJA mesmo.

Procura-se pois um novo caminho, em que só dois seres livres (ou mais) de sexos diferentes (ou do mesmo) podem e devem ser felizes, sinceros, honestos e viver as suas vidas enfim: sorrindo.

Amar é muito isso. Querer a felicidade do outro, sem prescindirmos de ser quem somos. E sorrir. Sorrir muito!

Mas será possível amar verdadeiramente, antes de nos amarmos a nós mesmos?

Há que aprimorar a nossa própria diferença, não a escondermos, mas sim enaltecendo-a e apaixonarmo-nos por "ela" quando a vemos assim igualmente estimulada e estampada no(a) outro(a).

Podem dois seres diferentes (ou mais) serem felizes? Não só podem como julgo que SÓ assim podem.

Porque ninguém é igual a ninguém, pesem embora semelhanças que encontramos e que nos fazem sentir por ventura confortáveis.

A mim, esse desconforto conforta-me. Porquê?

Porque é mais REAL.





6 comentários:

  1. Este texto fez-me reflectir ...
    Já pensei assim, já senti assim! Mas a minha experiência diz-me que o desconforto corrói, que as diferenças te afastam e que a liberdade deixa-te um sentimento de solidão.
    Após reflexão fica a minha dúvida ... talvez eu tenha prescindido de ser quem sou?! Mas numa vida a dois, não temos de prescindir ambos um pouco?
    Ontem à noite escrevi sobre o que quero para a minha vida no que respeita ao amor e a certeza que tenho neste momento é que para haver alguém no futuro tem de ser "All for one and all for love".
    Não quero ninguém pela metade, não serei pela metade.
    18 anos de um casamento baseado no que descreves neste texto levaram-me a querer mais e olha que sempre achei que era feliz

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    1. Minha querida "Campista" :) "nem tanto ao mar, nem tanto à terra." Certo é que numa relação seja de amizade ou de amor, a dois a três ou como for, há sempre um espaço construído em comum.

      Um espaço em que cedemos um pouco, para criar algo em conjunto. Mas o que é verdade, é que da nossa essência jamais podemos abdicar. Porque a nossa condição de solidão, perseguir-nos-à até ao fim da nossa existência.

      Somos o que somos, ainda que seres em constante mutação. E quando negociamos o que nos significa, o que é interiormente nosso (seja o que for e como se apresente) jamais seremos verdadeiros.

      Liberdade é pois: responsabilidade. Mas lá está... mais que mentirmos aos outros, não podemos mesmo é mentirmos a nós mesmos. Ninguém nos pertence. Nem maridos, nem esposas, nem filhos sequer.

      Tudo nos está por empréstimo. Por isso, de nada serve abdicar do que somos em prol de uma coisa supostamente maior. Porque nós somos essa coisa maior.

      O mundo está dentro de nós. Há sem dúvida espaço ao amor para outrém. Mas isso implica aceitação, como referi. "O outro aceita-nos como somos e nós aceitamo-lo como é."

      É dificil, mas só assim é real. Dure o tempo que durar. Um segundo ou uma eternidade. Beijinhos.

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  2. "Amar pois, é desapego. É compaixão, também. Amar não é deter, ou ter posse de algo ou de alguém. Mas sim entender a liberdade como princípio básico para a felicidade." Concordo absolutamente... Amar é aceitar, dar espaço, respeitar e acrescentaria que é tambem receber isso do outro, espaço, respeito, compreensão...

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    1. Sem dúvida Dinamene. SER-se pleno. SER-se verdadeiro.
      É duro mas só assim é real. Beijinhos.

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  3. Se não nos amarmos nunca amaremos ninguém de verdade…é uma tarefa impossível…apenas passaremos a vida a buscar nos outros aquilo que apenas nós próprios nos podemos dar…depois, bem ou se consegue e seguimos para outro patamar de relações, que costumo de chamar de “mais adultas” ou, a busca da nossa felicidade nos outros apenas nos leva a novas relações que falharam de certeza pois são as relações que eu chamo “de adolescentes” mesmo que se tenha 70 anos de idade. Ninguém é perfeito ninguém se encaixa “em nós” a 100% nem lá perto, assim como nós não encaixamos dessa forma em ninguém.
    Também o facto de uma relação chegar ao fim não quer dizer que a relação falhou…nada na vida é eterno, nem o amor, já lá dizia o poeta “eterno enquanto dura”.

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    1. Verdade. O que é o tempo afinal?
      Como definimos "muito ou pouco"? Há segundos que duram uma eternidade e anos que voam num ápice em que pouco deles extraímos.

      O importante é sermos nós mesmos e não termos medo de nos afirmarmos como seres únicos e especiais que todos somos. Extrair de cada momento o que ele nos proporciona e até na dor, encontrar um propósito de evolução. Beijinhos.

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